20 agosto 2009

Reportagem 17

Perseguição implacável

Aumentam no Brasil os casos de stalking, tipo de assédio punido com até dois anos de prisão na Europa e nos Estados Unidos

Francisco Alves Filho



A caçada é obstinada. Seja por telefone, seja pela internet ou pessoalmente, o perseguidor faz questão de invadir o cotidiano da vítima várias vezes por dia e mostrar que conhece sua rotina em detalhes.

"Foi o que aconteceu comigo", diz a roteirista e apresentadora de tevê paulista Rosana Hermann. "Um homem deixava comentários no meu blog, ligava para a minha casa, mandava e-mails." Sentindo-se acuada, Rosana deixou o País, com o marido e dois filhos.

Esse tipo de perseguição ganhou uma designação nos Estados Unidos: stalking - oriundo de stalk, que significa o ato de aproximar-se silenciosamente da caça.

Nos EUA e em alguns países da Europa ele é crime punido com pena de até dois anos de prisão. No Brasil, não há lei que trate do assunto, embora as reclamações sejam comuns. "Aqui, estas pessoas são enquadradas no artigo de perturbação da tranquilidade, que prevê multa ou poucos dias de prisão", afirma o jurista Damásio de Jesus.


"Cresce o número de clientes que me procuram com esse problema", alerta ele.
O caso de Rosana acabou quando a polícia paulista identificou o stalker e ele prometeu parar de persegui-la.

A apresentadora perguntou sobre o motivo da perseguição e surpreendeu- se com a resposta: "Eu te admiro, queria entrar na sua vida."

Rosana foi perturbada por um desconhecido, mas a maioria das vítimas é perseguida por pessoas inconformadas com o fim de uma relação amorosa.

"É preciso que legisladores, policiais e profissionais da psicologia passem a prestar atenção nesse tipo de comportamento", defende a psicanalista carioca Regina Navarro Lins.

Ela cita uma pesquisa sobre o tema publicada no livro "A Paixão Perigosa", do psicólogo americano David M. Puss, segundo a qual 75% dos stalkers espreitam suas vítimas, 45% fazem ameaças explícitas e 30% praticam atos de vandalismo. "Essa conduta é resultado de traços narcisistas com tendências obsessivas."

O engenheiro carioca J. L., que pede para não ser identificado, passou meses como alvo de uma ex-namorada que, ele não tem dúvida, é uma stalker. "Ela me abordava quando eu saía de casa e caminhava ao meu lado me dando beliscões", conta o engenheiro.

Com a intenção de reatar o relacionamento, ela passou de uma simples perseguição - como telefonar no meio da noite, mandar e-mail, aparecer nos lugares públicos onde ele estava - ao exagero do enfrentamento físico.

O engenheiro não teve outra saída a não ser pedir intervenção policial. Somente aí a ex parou de perturbá-lo. Recentemente, o ator de tevê Emílio Orciolo também deu queixa na delegacia contra a perseguição de uma fã.

"Foi algo muito desagradável, prefiro não detalhar", disse à ISTOÉ. O jurista Damásio de Jesus pede leis que punam casos de stalking com rigor: "Isso pode evitar, em muitos casos, uma agressão mais séria."


FONTE: Revista Isto É

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